O NOSSO BLOG, A ESCRITA, AS REVELAÇÕES INESPERADAS


Não tenho tempo para esperar. Vou andando sozinho. É essa a natureza da vida. A solidão inevitável que se reencontra quando buscamos o silêncio ou quando as circunstâncias nos empurram contra nós mesmos. E o silêncio tanto poderá ser fonte de angústia como fonte de revelações. As circunstâncias, pelo contrário, apenas nos reduzem a uma ínfima partícula do universo. Sentimo-nos uma limalha de ferro a ser empurrada pelo vento. Somos muito mais profundamente tristes do que poderemos imaginar. Como, ao mesmo tempo, percebemos que somos gratos pela vida e por tudo o que nos alegra os dias e nos faz sorrir. Nada disto é incompatível. As alternativas são tão contíguas que poderemos rir e chorar ao mesmo tempo por razões tão díspares, tal como nos sentirmos grãos de areia num deserto e julgarmos que os problemas que temos transcendem o tamanho do cosmos.

E as aulas da psicologia permitem esse jogo. Um jogo perigoso, por vezes. Aparentemente teremos acesso à chave da alma através de um tema, de uma frase de um texto, de uma observação qualquer dita ao longe e pouco depois cerra-se a alma de novo aos nossos olhares porque afinal essa revelação foi apenas um pequeno sinal, conveniente, mas pouco esclarecedor. E o resto de nós fica perdido em palavras amontoadas à medida que os dias caem do calendário e ficamos reduzidos a sinaléticas tão frágeis como ervas secas. Até onde vai a minha fragilidade perante os outros? Até onde vai a minha capacidade de lidar com as frustrações? Até onde vai a minha paciência para com autoritarismos que chegam de todos os lados? Até onde vai a minha honestidade perante aqueles que gostam de nós e nos aceitam? Até onde é que nos julgamos capazes de continuar sem desistir, sem capitular, sem resignar, sem fugir ou sem nos atordoarmos com distrações? Até onde alcança a nossa resistência, antes da loucura?

O blog, o nosso blog é este espaço de nós que comungamos com os outros. É um somatório de segredos que escondem outros, segredos que apenas são o reflexo desse mundo pouco cuidado, pouco aparado que somos nós. A agressividade, desejos demasiado cruéis, demasiado sórdidos que povoam noites com sonos frágeis, e depois as sedes de vingança mesquinhas de quem nos largou sem despedidas, de quem nos mentiu sem qualquer vergonha, de quem nos roubou dos pequenos tesouros da nossa ingenuidade. Não somos o que parecemos mas será que sabemos até que profundidade vão as nossas máscaras? Será que reconhecemos que por trás da bondade, da generosidade, do desprendimento, do sacrifício, haverá mundos pessoais cheios de monstros, natureza diabólica que apenas espera o momento certo para dar o golpe final?

E vamos andando sozinhos. Como sempre. Procurando aqui e ali o nosso eu completo, desajeitado, ridículo, à espera sempre dos sorrisos, das benesses, das alegrias breves retiradas com muito custo, a martelo e escopro, do mármore que é a vida. Após mais uma noite em claro, o sol que espreita, mesmo por cima do aeroporto, e que por falta de nuvens espalha raios por todo os lados. Estamos prontos para mais um dia. Não me lembro do dia do mês, mesmo tentando. Perdido, mas com aquele contentamento próprio de quem caminha sozinho e a quem o sol concede também um pequeno raio, um só para ele. A sério.

Luís R

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