O SOL E A SOMBRA
Sempre tão perto como se fizesses parte da mobília. Eras tu e nós. Um "tu" tão grande que nós tínhamos dificuldade em encontrar um recanto para nos sentarmos. Um local onde nos fosse permitido esquecermo-nos de ti. Podias ter ido embora e não foste, por medo e por vergonha. O que pensavam os outros foi sempre sobrevalorizado na tua vida. As vezes não te perdoava a cobardia porque ao ficares também sobressaíam as mágoas colhidas ao longo dos anos. Devias ter partido enquanto foi tempo. Um tempo frio, escuro como o breu, onde todos nós andávamos perdidos, cada um com as suas angústias. Crescidos, com pernas para andar e a maturidade construída tijolo a tijolo como uma casa de emigrantes. E eu com tanta urgência de vida que qualquer entusiasmo o escrevia em cadernos que levava para todo o lado. Eras tu o motor da carruagem. Gerias o nosso mundo interior mesmo quando o exterior de nós simbolizava indiferença. Foi por isso que deixei de ser teu filho aos vinte e seis anos e