A CHUVA E O SONO
Mas adoro a chuva. Nas minhas insónias fantasio dormências em autocaravanas, perdidas entre as árvores e balanceado pelo som da água que escorre em abundância. É a melhor estratégia para adormecer. No passado chovia mais e na minha adolescência - que demorou uma eternidade - a chuva caía com tanta frequência que a memória está repleta de manhãs que escureciam sob aguaceiros monumentais e que me aconchegavam aos cobertores quentes. Apesar de ter amigos, companheiros de brincadeiras, julgo que a solidão é sempre a marca de nós mesmos e esse sentimento é ainda mais avassalador na juventude. Os amigos ajudam-nos a andar, mas o caminho é sempre feito isoladamente a enfrentar os estorvos, os perigos e as provocações. E a chuva acentuava a solidão. Obrigava-nos a um recolhimento forçado. Eram dias mais silenciosos, apenas se ouvia o barulho da água que escorria pelas caleiras. As conversas na família eram reduzidas ao mínimo, parecia que a chuva fazia emudecer as pessoas, refreava entusia