A MELANCOLIA E O NATAL

 



A tristeza é o caminho da revelação. A euforia apenas nos permite o adereço e a superficialidade. Mas não é toda a tristeza que dá acesso à verdade. Há uma que nos impede de sair de nós, mas há outra que procura clareiras, que nos agasalha e nos projeta para um longínquo oásis. Ser feliz está sempre a um passo do passado. Nós nunca nos sentimos felizes, apenas sentimos que o fomos. O presente está condenado à deceção, ao entediamento, ao problema prático que demora a resolver, à vida mesquinha do dia a dia.

Do mesmo modo, também não existe clarificação quando o espírito vive em frenesim, próprio do entusiasmo de quem julga, erradamente, que no presente realizou o próprio sonho. É o estado de paixão que é tão bloqueador como o sofrimento, que nos reverte de forma constante para nós mesmos, como ostensivo tirano, devorador do passado e do futuro.

Se o sofrimento e a paixão nos amarram ao presente, a melancolia arrasta-nos à procura do devaneio. Recusa o presente, encontrando no passado as fantasias não cumpridas. Melancolia é regressar à infância, esse mar calmo e transparente que aquece a alma, sulcado depois por regos e abismos em histórias desencantadas. É nela que nascem todas as histórias, transfiguradas pelo que se perdeu e o sonho acrescentou, sob um olhar ternurento mas magoado pela travessia…

A melancolia conserta o presente, pela esperança reconquistada. Permite a leveza, a busca de outros cenários, revisitando vidas que se perderam na caminhada. O presente não basta para garantir a quietude. Encontram-se espaços alternativos, reencontros com fantasmas que escaparam pelos bolsos rotos do tempo…

E agora que o tempo natalício se aproxima, envolvido por mensagens de perigo e nuvens negras, é um bom momento para reencontrarmos um Natal pintado com o cheiro a filhoses, sorrisos e gestos serenos dos mais próximos e com o coração quente pela lareira, cenário que nos oferecia confiança no futuro, como se o mal, fosse qual fosse, nunca faria parte do nosso mundo.

 Luís R

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