LOUCO SOU EU...

 


Olho fixamente o horizonte. Pois é, nada tem sentido. Nada tem qualquer valor. Nada tem vida, nem mistério,

nem vontade,

nem brancura,

nem ilusão,

nem coerência.

Preferia estar. Não sair.

Só quero acautelar que nada me atormenta.

Sincero sou, mas não muito inteligente. Se o fosse não estava aqui à procura do rigor, de densidade, de capacidade, de recuperação, de luz, de credibilidade.

Não quero sentir-me menos que os outros, menos que o limite da sanidade; menos do que o jogo mínimo da sobrevivência. Também não quero mais do que tenho direito, mas não me lembro de nada.

Não me lembro mesmo de nada.

Se estivesse no início do caminho o que mudava? Se soubesse nada mudava, alterava, rebentava, refazia, inventava caminhos tão dissonantes, fora do mapa, distantes da serenidade.

Teria escolhido o caminho da rutura, da insegurança, da solidão. E depois?

Teria sempre o sorriso de quem me quer bem,

de quem me acolhe sem mostrar medo,

desagrado,

desculpas,

reserva de braços,

 de doces,

de gestos e de carícias,

de palavras, de sentimentos,

de batimentos,

de mantimentos.

É ela que me ajuda à recuperação, no combate às angústias, à sede, à exaustão, à demora, à tempestade, à dissolução, à diminuição, à queda, à levitação, à loucura, à lamentação.

E depois bato à porta e entro. Sento-me junto à lareira. Vou pedir e insistir que nunca me mande embora. Que não me empurre para o frio, para a noite tão escura como o alcatrão.

Ficarei ali sem me mexer, sem me rebelar,

Sem questionar,

Sem nada esperar,

Sem nada querer,

E depois, devagarinho, adormecer…


Henrique do O

Comentários

Mensagens populares deste blogue

OS OLHOS TAMBÉM ENVELHECEM E NÃO É MIOPIA

Desencontro